O Bianco-Lorraine é mais do que um carro raro — é a prova de que a criatividade e a engenharia brasileiras podem transformar um projeto de pista em um esportivo de rua digno de admiração.
De Fúria às ruas: o ponto de partida da máquina
Tudo começou nos anos 1970, quando Toni Bianco apresentou ao mundo o Fúria, um carro de corrida com motor central-traseiro e desenho marcante. Após sua aposentadoria das pistas, Bianco decidiu adaptar o modelo para uso urbano, aproveitando a estrutura da Brasília. Assim, nascia o Bianco.
No entanto, apesar do visual agressivo, o carro sofria com limitações de espaço interno e um chassi que não fazia jus à esportividade esperada.

Uma nova visão: entra em cena Eduardo Garcez
Já na década de 1980, Eduardo José Garcez, engenheiro da Embraer, decidiu reimaginar o conceito. Em vez de simplesmente fazer ajustes no projeto original, ele deu um passo além: construiu um chassi tubular próprio, posicionou o motor AP 2.0 preparado em posição central e adotou soluções técnicas modernas. Entre elas, destacam-se a suspensão independente na dianteira (herdada do Opala) e a traseira McPherson (do Santana).
Com isso, o resultado foi um carro com equilíbrio dinâmico notável e desempenho muito superior ao Bianco original.
Renascimento com Nicoletti
Décadas depois, o protótipo foi parar nas mãos de Adilson Nicoletti, que decidiu restaurá-lo com atenção minuciosa aos detalhes. Como parte das melhorias, ele rebaixou os bancos e o painel para otimizar a ergonomia — e obteve sucesso. Agora, até motoristas mais altos conseguem guiar o carro com conforto e controle total.
A experiência ao volante: performance e alma de um esportivo clássico
Guiar o Bianco-Lorraine é, de fato, uma experiência única. Em muitos aspectos, lembra pilotar um clássico europeu dos anos 60. A posição de dirigir é envolvente, o motor responde com vigor, e o comportamento do carro transmite aquela sensação pura e mecânica que apenas os esportivos analógicos oferecem.
Além disso, a direção é direta, o câmbio tem engates curtos e precisos, e a carroceria baixa faz com que o motorista se sinta parte do asfalto. Nesse sentido, o paralelo com o Ferrari Dino não é exagero — é apenas justo.
